Blockchain Empresarial: O passo evolucionário mais importante das DLTs

Considerando que a tirinha do Dilbert acima fez algum sentido para você… Minha proposta aqui é fazer um overview, não exaustivo, sobre DLT (Distributed Ledger Technologies), se você já está atuando na área ou tem um viés técnico, talvez não atenda suas expectativas. A proposta aqui é gerar fundamentos para discussões de negócio baseados nos conceitos que orientam a adoção da tecnologia. Se nunca ouviu falar sobre Blockchain, recomendo um vídeo rápido do World Economic Forum, assista e volte, é bem simples e pode ajudar [https://www.weforum.org/videos/what-is-blockchain].

Agora, vamos falar um pouco sobre termos que eventualmente você vai escutar quando estiver falando sobre Blockchain ou outras tecnologias correlatas. Seguindo a dica do Dilbert vamos esclarecer algumas sopas de letrinhas (“the words.”) que podem ser utilizadas no restante da explicação.

Ledger ou livro razão, como conceito, é um livro ou sistema, onde são registradas um conjunto de transações (exemplo: contábeis/financeiras) validados de forma permanente. No caso contábil, é aquele livro de papel onde as transações são registradas a caneta (permanente).

Distributed Ledgers, neste contexto, é o grupo das tecnologias capazes de entregar as características de um Ledger (registro permanente de um fato) de forma distribuída, entenda distribuída em duas ou mais empresas/cópias diferentes tendo exatamente a mesma informação.

Blockchain são tecnologias que implementam um Ledger Distribuído, utilizando fundamentalmente criptografia, emblocamento (block) das transações em cadeia (chain) e um modelo de processamento distribuído para validar a integridade das informações nos blocos (block) pela validação da cadeia criptográfica (chain) anterior/histórica.

Se ficou um pouco confuso dê uma olhada neste link abaixo, é bem simples e ilustra de forma rápida o que tentei explicar em poucas palavras.

http://graphics.reuters.com/TECHNOLOGY-BLOCKCHAIN/010070P11GN/index.html

Cryptocurrency ou Criptomoedas, onde o Bitcoin é o expoente mais emblemático, é uma aplicação desenvolvida utilizando uma implementação de Blockchain e técnicas de “gameficação”, como incentivo a integridade e segurança da rede além de modelo de remuneração.

Smart Contracts ou contratos inteligentes, são um pedaço de código de computador que executam uma tarefa específica, pré-programada. A exemplo, uma validação da obrigatoriedade de informações à qual tarefa devo executar às 12 horas. Desculpe se esta definição é simples, mas, na prática, é. Você no mundo digital já lida com software executando tarefas e programas o tempo todo, aqui, apenas o contexto é diferente.

Sentiu falta de termos como Proof Of Work (prova de trabalho), Mining (mineração) e outros? Fique tranquilo, falaremos sobre estes em um artigo específico. Não coloquei aqui para não tirar o foco de conceitos macros, em geral quando entramos nestes termos vai um artigo só para falar de Bitcoin… É como um buraco negro que atrai o cérebro e ao final as pessoas esqueceram o que é Blockchain e estão perguntando se eu tenho Bitcoin, como compra etc… Vamos manter o foco.

O restante da nossa abordagem vai ser sobre a figura abaixo, que vai nos ajudar a entender o real significado proposto e o objetivo central. A análise foca no entendimento e reconhecimento de 3 momentos (a depender da sua idade, o primeiro momento nem existe na sua memória, antes da internet).

Para entender o impacto das DLTs ou Tecnologias de Ledger Distribuídos minha proposta é analisar a relação entre empresas e suas interações.

A mais básica seria Comunicação (Communication), aqui focamos em como as empresas se comunicam basicamente (canal/meio — exemplo internet). A segunda etapa é como as empresas processam (processing) as informações recebidas nesta comunicação, estamos falando de quais regras de negócio são aplicadas sobre esta comunicação por seus sistemas. A terceira etapa ocorre após o processamento (processing), aplicando regras de negócio consigo afirmar se é verdadeira ou falsa esta informação (perception). Com base neste cenário definimos qual ação tomar (action).

Se está um pouco confuso, então vamos a um exemplo:

Duas empresas, A e B, decidiram efetuar uma transação que faz sentido entre elas. Para ilustrar vou chamar de [pagar].

Etapa 1 – Empresa A:

• [Action] Enviar Mensagem contendo [Valor, Data de Pagamento];

• [Perception] esta mensagem é verdadeira, sistema empresa A;

• [Processing] validar se o valor é maior que zero e se a data de pagamento é válida, sistema da empresa A;

• [Comunication] via internet ou canal confiável, esta comunicação chegará na empresa B;

Etapa 2 – Empresa B:

• [Comunication] recebe uma mensagem da Empresa A, considera que o canal é válido e acordado entre elas;

• [Processing] valida se o valor é maior que zero e se a data de pagamento é válida, sistema da empresa B;

• [Perception] se os seus sistemas validaram e entendem que a mensagem é verdadeira, sistema da empresa B;

• [Action] efetua alguma ação com esta mensagem, neste exemplo [pagar];

Before the Internet, antes da Internet, neste momento o problema principal entre empresas era a comunicação. A corrida aqui foram protocolos e padrões de comunicação, como bom e velho TCP/IP — ainda não o melhor — se sobressaindo. Ter comunicação, como uma linha telefônica, faria diferença na sua capacidade de negócio com parceiros e consequentemente nos seus resultados, linhas telefônicas eram bens — como carros são hoje (se parece loucura é porque você não viveu os anos 80 e início dos 90).

Now, no momento atual com advento da internet, de forma abstrata para outros protocolos de comunicação. Houve uma mudança na forma como as empresas se comunicam utilizando tecnologia. Eventualmente nossa percepção como indivíduos da internet é basicamente acesso a site, mas provoque-se a expandir e pensar em e-mails, voz sobre dados (VoIP), transferência de arquivos, APIs etc. A capacidade de estabelecer um protocolo de comunicação comum entre as partes nos levou a um salto na integração de negócios e os últimos anos são pura diversão.

Nas empresas ocorreram revoluções. Todavia, ainda temos uma integração superficial entre os negócios. Vou tentar ilustrar melhor. As empresas têm um canal de comunicação comum, porém:

• Reprocessam [processing] as transações entre as partes. O que significa em termos de tecnologia que 2 empresas escrevem o mesmo sistema para validar a mesma mensagem, cada uma da sua ótica;

• A percepção de verdade é bilateral, ou seja, do meu ponto de vista está validado, gerando aqui os famigerados processos de conciliação e reconciliação;

• As ações [action], estas, sim, são o core do negócio. O que eu, enquanto negócio tomo de ação com esta informação depois de recebida [communication], processada [processing] e validada [perception].

After Shared Ledger, o que de fato as tecnologias de ledger distribuídos trazem é similar ao ocorrido com o advento da Internet [Shared Communication] uma forma de resolver ou melhorar as etapas de [Processing] e [Perception].

• Escrevemos um SmartContract (software) comum que possui as regras comuns que precisam ser validadas para todos os participantes considerarem uma transação válida [Shared Processing] — a chave é achar as regras comuns entre os participantes.

• Este mesmo código será validado e reprocessado por dois ou N participantes das redes utilizando algum algoritmo de consenso.

Ops! Esqueci esta explicação "algoritmo de consenso", mas vamos… algoritmo de consenso é basicamente o conjunto de regras, suportada por uma tecnologia, que uma determinada transação deve atender para ser considerada válida por todos os membros da rede. Um possível exemplo: em uma rede de 10 participantes podemos estabelecer que três participantes devem revalidar uma transação para que esta seja válida para os demais.

Uma vez validada por dois ou N partes da rede, a informação é enviada para gravação de forma definitiva entre os demais [Shared Perception = Truth], todos terão exatamente a mesma informação validada. Reduzindo aqui sua conciliação e/ou reconciliação com seus parceiros externos.

Aqui mora o que muitos tem chamado de “a revolução do Blockchain”. Estas características permitem uma integração profunda dos negócios e cadeias produtivas garantidos pelas capacidades entregues pela tecnologia e desejadas por empresas e governos a séculos:

Uma verdade compartilhada, íntegra e verificável na forma de um ledger distribuído implementada por tecnologias como Blockchain. Permite empresas manterem o foco no seu negócio [action] bem como novos modelos que podem ser explorados partindo deste novo paradigma.

Ufa… Este foi longo hein! Podemos explorar alguns exemplos neste contexto, todavia o objetivo aqui é fixar estes fundamentos. Guarde com cuidado e vamos analisar a utilização nos próximos artigos.

André Carneiro

Emerging Technologies and DLT /Blockchain

Referências:
-The future of financial infrastructure — An ambitious look at how blockchain can reshape financial services.(World Economic Forum)
-A REUTERS VISUAL GUIDE Blockchain explained.(reuters.com)
-World Bank Presentation Sept 2016v1 — Global Symposium for Innovative Financial Inclusion.