Uma discussão bastante comum sobre Blockchain é: público ou privado? Frases cheias de paixão sobre Blockchain ser somente público, afirmações sobre Blockchain privado não fazer sentido ecoam sem explicação efetiva. Em geral este fundamento vem de cripto pseudoanarquistas ou “Start Upeiros” seriais. (se este for o primeiro artigo meu que você está lendo, pode ser uma boa ler o anterior sobre tecnologias de ledger distribuído). A proposta aqui é discutir este tema em torno de alguns mitos e ajudar cada pessoa a entender qual a melhor solução para seu negócio sem juízo de valor.
Abaixo, algumas provocações para pensarmos juntos e servir de fundo da discussão que teremos neste artigo; para facilitar vou utilizar o Blockchain do Bitcoin dado sua escala e abrangência no mercado.
O mito da desintermediação:
Quando você pensa em Blockchain a ideia de desintermediação é a que vem mais forte na sua mente?
Você acredita que Bitcoin, por exemplo, gera desintermediação como pensado pelo(s) seu(s) idealizador(es)?
Você acredita que internet é livre e desintermediada?
Distribuição Blockchain Bitcoin + 75% de concentração em menos 10 players.
O gráfico pode se alterar no tempo (link no final do artigo), todavia o que gostaria de chamar ao pensamento é sobre a concentração. O volume de transações de Blockchain usado para Bitcoin é concentrado +75% em menos de 10 players, os mineradores em grupo (ou pool mining). Estes são os novos intermediários que compram capacidade computacional para ganhar o processo de mineração e compartilhar parte destes ganhos com quem forneceu capacidade computacional ao grupo.
Top 100 Exchange by Trade Volume — novos intermediários.
Uma outra visão sobre estes cenários de intermediação ocorre na ponta dos usuários finais onde o maior volume de transações de Bitcoin e outras criptomoedas ocorrem em exchangers. Nestes cenários nem existe de fato a utilização de Blockchain.
As corretoras de criptomoedas e afins apenas trocam virtualmente a posse dos bitcoins de usuários para outro, ganhando comissão cada vez fazem este processo.
De fato estas pessoas não tem Bitcoins dentro do contexto do Blockchain público. Pelo modelo, elas tem alguma coisa, que elas chamam de “Bitcoin”, registrado em nome da corretora onde elas tem confiança.
As corretoras é que de fato detém a posse (ou assim se acredita) dos Bitcoins equivalentes a quantidade que estão circulando. Vale ressaltar que nem isso é validado na maioria dos casos. Uma corretora maliciosa poderia estar comercializando dentro da sua plataforma mais Bitcoins do que realmente detém posse registrado no Blockchain do Bitcoin.
Internet e intermediação:
Quanto à internet, existe um controle bastante discutido sobre o Icann que tem sede na Califórnia e é subordinado ao Departamento de Comércio americano, mas depois você pode ler mais sobre este assunto.
Em um mundo que vive a realidade de Computação em Nuvem (Cloud Computing) e coisas como serviço (IaaS, PaaS, SaaS), já parou para pensar que o que define a fronteira entre internet (rede “pública”) e intranet (rede privada), pode ser somente um conjunto de regras em firewall e visibilidade de uma ou outra rede?
Internet como meio e não fim:
Não há grandes discussões sobre a internet ser o meio de comunicação. Uma filia A e B trocam informações usando tecnologias que permitem segurança e privacidade sobre uma infraestrutura típica da internet, em resumo, redes.
Alguns casos mais complexos podem usar conceitos como extranet ou redes corporativas interconectadas, um bom exemplo, SIAN Chain na EU interconecta “govs” e setor financeiro mantendo uma estrutura proprietária, claro esta estrutura não existe por causa de Blockchain, todavia Blockchain tira vantagem de latência e throughput de rede privada em escala.
Em resumo, rede, seja ela internet ou não, como meio e não como fim.
Aqui vai minha proposição, não considere como algo pronto ou receita, compartilho um pouco do que tenho discutido no dia a dia com evolução de etapas anteriores:
Blockchain em Redes Públicas:
Seu caso de negócio necessita de modelo de incentivo indireto para o processamento das transações que ocorrem sobre ele;
A capacidade/complexidade computacional disponível em rede pública atende seus critérios de tempo de finalização da transação, em resumo tudo bem esperar 10 minutos, ou alguns minutos, para fechar a transação globalmente?
A resiliência em escala global para corrupção do ledger é um requisito mandatório;
Qualquer pessoal pode participar deste processamento, entenda uma pessoa em um país qualquer com qualquer capacidade computacional associado a uma pool miner;
Se houver um fork, ou simplificando, quebra no padrão tecnológico sobre o Blockchain público sobre o qual você construiu seu caso de uso, o qual você não tem nenhum controle, tudo bem? Seu caso de negócio ainda para de pé? Se sim, está no caminho.
Super importante qualquer que seja o seu caso, lembre-se que o sucesso do case está no modelo de incentivo e não na tecnologia.
Considere o impacto da variação dos preços das criptomoedas vinculadas a sua rede pública sobre seu negócio. Traduzindo, uma transação pode começar o dia a $0,10/transação e terminar $0,20/transação, levando uma variação de 100% de custo em dia ou horas (positivo ou negativo).
Blockchain em Redes Permissionadas:
Consegue fomentar e criar uma rede de interesse comum (gerar massa crítica)?
Os participantes na rede detém um nível de confiança médio ou alto, suficiente para conectarem seus negócios em torno de interesses e problemas comuns?
As paixões sobre plataforma/blockchain A ou B estão equalizadas ou encaminhadas;
Você visualiza mais negócios ou problemas comuns que podem ser resolvidos após o primeiro caso de negócio;
Esta rede consegue crescer organicamente? Para validar esta hipótese avalie as seguintes afirmações. “Se todos os participantes do mercado estiverem na rede…” contra "se nós e mais 3 participantes iniciarmos já temos bom percentual do mercado e podemos ter benefícios em comum.”
not about Betamax (vs) VHS battle / Evolução Natural — Long run …
Em resumo estamos falando de um processo natural de evolução que passa no mundo corporativo de uma intranet de valor [redes permissionadas] para internet de valor [redes públicas] ao tempo de maturidade de cada mercado e organização.
André Carneiro
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